segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Cristo, símbolo do ''si-mesmo''

 
 
 
Falamos necessariamente de Cristo, porque Ele é o mito ainda vivo de nossa civilização. É o herói de nossa cultura, o qual , sem detrimento de sua existência histórica, encarna o mito do homem primordial (Urmensch), do Adão mítico. É Ele quem ocupa o centro da mandala cristã; é o Senhor do Tetramorfo, isto é, dos símbolos dos quatro Evangelistas que significam as quatro colunas de seu tempo. Ele está dentro de nós e nós estamos dentro dele. Seu reino é a pérola preciosa, o tesouro escondido no campo, o pequeno grão de mostarda que se transforma na grande árvore; é a Cidade Celeste. Do mesmo modo que Cristo, assim tbm o seu reino está dentro de nós.
 
Acho que estas poucas referências universalmente conhecidas são suficientes para caracterizar a posição psicológica do símbolo de Cristo. Cristo elucida o ‘’arquétipo do ‘’SI-MESMO’’. Representa uma totalidade de natureza divina ou celeste, um homem transfigurado, um perfeito filho de Deus(...) Ele constitui uma equivalência do primeiro Adão antes da queda original, isto é, quando este possuía ainda a pura semelhança com Deus, e a respeito do qual diz Tertuliano (222): ‘’’E quanto a esta imagem de Deus, pode-se admitir que o espírito humano possui os mesmos impulsos e o mesmo sentido de Deus, embora não da mesma forma’’. Orígenes  (185-254) é muito mais minucioso: ‘’A imago Dei (imagem de Deus) impressa na alma e não no corpo é uma imagem da imagem, ‘’pois minha alma é uma imagem de Deus, não de modo singular, mas criada á semelhança de uma imagem precedente’’. Cristo, ao invés,  é a verdadeira imago Dei, a cuja semelhança foi criado nosso homem interior: invisível, incorporal e imortal. A imagem divina manifesta-se em nós através da ‘’prudentia’’, da ‘’justitia’’, da ‘’moderatio’’, da ‘’virtus’’, da ‘’sapientia’’ e da ‘’disciplina’’.
 
Carl Gustav Jung

Post Scriptum
 
 
www.clinicapsique.com/doc/simesmo.doc‎
                                                 
Neste capítulo irei ressaltar o si-mesmo como fator instigador da consciência para que
esta se aproxime da totalidade da psique e, realize suas potencialidades. No conceito teórico de Jung, o si-mesmo contém aspectos de luz e sombra que coexistem, são irredutíveis e não derivam um do outro.

            Para que o processo de individuação aconteça é necessário que o ego entre em contacto com os aspectos irracionais e sombrios da psique, que muitas vezes ficam reprimidos, a um certo custo, porém não são eliminados e, estes na maioria das vezes são projetados no coletivo e, para que se aproxime do si-mesmo é necessário que estes conteúdos sejam integrados, só que esta aproximação é algo ainda muito distante; segundo citação de Jung:

“ É impossível chegar a uma consciência aproximada do si-mesmo, porque  por mais que ampliemos nosso campo de consciência, sempre haverá uma quantidade indeterminada e indeterminável de material inconsciente, que pertence à totalidade do si-mesmo.Este é o motivo pelo qual o si-mesmo sempre constituirá uma grandeza que nos ultrapassa”(Jung, C.G. vol. VII, & 274, Obras Completas.)

            É necessário um diálogo criativo e aberto entre o si-mesmo e o ego para que, mais aspectos sombrios venham a consciência, pois quanto mais unilateral for a posição de uma pessoa mais à superfície da vida esta vai se situar. Para aprofundar conteúdos e se apropriar um pouco mais da própria personalidade é necessário se desvencilhar de uma rigidez moral e massificada, ser suficientemente enraizado no mundo em virtude de seus próprios esforços, ter coragem de confrontar a sombra e, ir em busca do animus ou da anima, afim de alcançar uma união superior; no entanto para que um conteúdo psíquico seja esboçado nos diz Jung, que é indispensável usar no mínimo duas funções “racionais”:
                                  
“Quando, portanto, no estudo dos conteúdos psíquicos se toma  em consideração não apenas o aspecto intelectual, senão também o julgamento de valor, obtém-se necessariamente não apenas uma imagem completa do respectivo conteúdo, mas também a posição especial que ocupa na escala dos conteúdos psíquicos.O valor afetivo constitui um critério sumamente importante, sem o qual a psicologia não é possível, porque é ele que determina , em larga medida, o papel que o conteúdo acentuado desempenhará na economia da psique. Ou melhor, o valor afetivo funciona como um barômetro que indica a intensidade  de uma representação, intensidade que, por sua vez, expressa a tensão energética, o potencial de ação da representação. A sombra, por exemplo, em geral tem um valor afetivo marcadamente negativo, ao passo que a anima e o animus possuem, ao invés, um valor positivo.”
( Jung,C.G. Vol. IX/2 & 53. Obras Completas)

            Podemos notar que não é simples a percepção do si-mesmo em sua totalidade, pois ele se situa além dos limites pessoais e, surge como algo numinoso e fascinante. Algo no campo do sagrado, sob a forma de um mitologema religioso. Podemos chegar a instantes de contemplação do si-mesmo, através de alguns símbolos de totalidade, como as mandalas, a quaternidade. O cristo também é um símbolo do si-mesmo.



(...)


“Tradução do aramaico de sihã e do hebraico mãsiha, i.é, messias. No AT, além do sumo sacerdote também o soberano reinante é chamado”ungido” de Javé.Também os salmos falam várias vezes no ungido, referindo-se certamente também aos descendentes  históricos da dinastia davídica.À medida porém que essa realeza ia decaindo, surgiu a figura de um rei ideal, sobre-humano e os mesmos textos dos salmos foram ganhando uma nova interpretação. Sobre a origem e a evolução dessa idéia – Messias.Os discípulos reconhecendo Jesus como o Messias, acrescentaram esse título ao seu nome: “ Jesus Cristo”, “Cristo Jesus”, ou simplesmente Cristo.Afinal, Cristo tornou-se um nome independente para indicar o Kyrios glorificado.
                          ( DEN BORN & COL.dicionário enc. da bíblia,Vozes;1985)


            O Cristo que é o objeto de culto cristão é o Jesus que viveu e morreu na Palestina, mas também foi na época muito mais do que isto.Ele foi assimilado pelo sistema e recebeu a projeção do homem Deus esperado pelos seus contemporâneos, tornando-se assim a sua expressão arquetípica.Como o reinado de Davi estava decaindo, aquele povo necessitava de um substituto, e ficaram assim esperando por um messias.

            Temos alguns arquétipos que remontam suas origens na humanidade, centenas e milhares de anos antes de Cristo. Muitos líderes tribais conseguiram reunir homens e mulheres diante de situações catastróficas, de desastres naturais ou sob ameaças de inimigos de outras tribos, por terem sido capazes de despertar uma resposta arquetípica, instintiva.Poderíamos citar aí o arquétipo do mal, do salvador, do guerreiro e, outros considerados primordiais. Jesus Cristo despertou em alguns de  seus contemporâneos essa resposta primordial, como alguém que poderia libertar homens e mulheres do mal moral e espiritual. Apesar de ele ter semelhança com uma longa fila de grandes líderes humanos, tinha algo nele que era específico e único, que o aproximava do divino e, que o fez ser lembrado e seguido até os nossos dias.Ele incita à atividade uma tendência mais profunda ainda, não somente o arquétipo do salvador mais também o arquétipo do Self. Como nos diz Jung:
                       
“Jesus transformou-se na figura esperada pelo inconsciente de seus contemporâneos. Por isso é inútil querer saber quem era e como era Ele em sua realidade concreta. Se sua figura fosse fidedigna sob o ponto de vista humano e histórico, seria provavelmente tão pouco esclarecedora como a de um Pitágoras, de um Sócrates, ou a de um Apolônio de Tiana.Ele apareceu como o portador de uma revelação justamente pelo fato de apresentar-se como um Deus eterno( e, por isso mesmo, não- histórico),e só podia agir como tal, graças ao consensus generalis ( consenso geral) inconsciente:se seus contemporâneos não tivessem visto algo de especial na pessoa do milagroso Rabi da galiléia, as trevas não teriam percebido que uma luz havia brilhado”( JUNG. C.G.Vol.XI &228, Obras Completas)


            Cristo é o mesmo Jesus histórico que caminhou e ensinou por toda palestina e que nos traz uma indagação, o que este Rabi falou ou como Ele agiu para tocar com suas mensagens o íntimo do homem.Observando o NT vemos o quanto sua linguagem é simbólica e também por isso tão próxima da alma humana.Como Jung nos diz em seus escritos, que além dessa linguagem simbólica que caracterizava o Cristo, Ele traz consigo características de uma vida de herói, tais como: origem improvável, pai divino, nascimento ameaçado de perigo, pronta salvação, amadurecimento precoce (crescimento do herói), superação da própria mãe e da morte, milagres, um tipo de morte simbolicamente significativo, efeitos póstumos (aparições), sinais miraculosos,etc.Todos esses atributos de Jesus fizeram com que Ele incorporasse o Cristo em vida e após sua morte e ressurreição tornar-se uma figura celestial e viva por séculos e séculos. Apesar de que Jung nos faz uma alerta e, nos mostra a necessidade de  uma renovação do cristianismo da época atual, pois os símbolos que antes fascinavam e moviam a psique humana, hoje estão perdendo sua força.

            Com relação a espera de um conteúdo que atualizasse o arquétipo do Cristo, vemos diversas citações no AT, vários profetas não cansaram de bradar aos quatro cantos a vinda do messias. Um messias que como enviado de Deus traz à humanidade a salvação prometida, vemos isso muito claro num trecho do profeta Isaías:

“Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. Ele tem a soberania sobre seus ombros e será chamado; Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da paz. Ele terá uma soberania ampla e uma paz sem limites, sobre o trono de Davi...”( Isa,9-5)
                                  
            Esse Messias tão esperado, surgiu.Com toda sua trajetória heróica, nascimento divino e os demais atributos que o caracterizavam como herói, além de sua mensagem simbólica falando a alma daquele povo, o rabi Jesus rapidamente foi assimilado e o arquétipo constelado. Nascendo assim Jesus Cristo e, imortalizado até os nossos tempos.      
 
(...)
 
Pedra angular
 
http://www.sophia.bem-vindo.net/tiki-index.php?page=Coomaraswamy+Cristo

Santa Catarina de Siena teve uma visão de Cristo na forma de ponte e Rumi a
tribui a Cristo as seguintes palavras: "Para os verdadeiros crentes eu me transformo numa ponte que atravessa o mar".

Num livro notável intitulado Consider the lilies, how they grow (Vede como crescem os lírios, Mateus 6,28), publicado pela Sociedade de Folclore Alemão da Pennsylvania em 1937, vemos que durante muito tempo Stoudt, cuja interpretação da arte alemã da Pennsylvania se baseia totalmente nas "manifestações históricas da religião mística" (com ênfase especial a Jacob Boehme, Dante, São Bernardo e a Bíblia), ficou intrigado com o motivo decorativo em forma de diamante (losango), até que encontrou nos trabalhos de Alexander Mach uma passagem em que "Cristo era denominado Eckstein", de forma coerente com os textos bíblicos. Percebeu então que em alemão a palavra que indica diamante é a mesma que indica pedra fundamental ou pedra angular (p. 76). Aparece em tampas de fogão e com relação a isto Stoudt menciona com muita propriedade a instrução dada por Clemente de Alexandria aos cristãos primitivos, no sentido de colocarem os símbolos de Cristo nos utensílios domésticos.

Até aqui está tudo muito bem. Mas podemos ir mais adiante e indagar em que sentido Cristo é mencionado como diamante e Pedra Fundamental ou, mais literalmente, pedra angular.1 No Salmo 118,22; Mateus 21,42; Lucas 22,17 temos: "A mesma pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular" (kephalen gonias, caput anguli); em Efésios 2,20 temos "... com o próprio Cristo por pedra angular" (ontos akrogoniaiou autou krisou Iesou ou ipso summo angulari lapide Christo Jesu); o texto continua e diz: "n'Ele qualquer construção bem ajustada (synarmodogomene), constructa = sam-skrta em sânscrito) cresce para formar um templo santo (eis naon agion) no Senhor, em união com o Qual também vós estais integrados na construção (coedificamini) para vos tornardes, no Espírito, a morada de Deus" (en Pneumati = atmani em sânscrito). A intenção evidente deste trecho é pintar Cristo como o princípio sem igual do qual depende todo o edifício da Igreja. O princípio de qualquer coisa não está nem entre outras partes dela nem na totalidade das partes, está onde todas as partes estão reduzidas a uma unidade, sem composição. Esta figura tem paralelo na figura da participação do Corpo Místico de Cristo. Mas uma "pedra angular" no sentido aceito de pedra situada no canto de uma edificação, por mais importante que seja, e até se tivermos a intenção de levar em conta uma pedra angular especial, é apenas uma de quatro apoios iguais; não podemos falar logicamente de uma determinada pedra angular, e qualquer pedra angular mais reflete do que realmente é o princípio dominante de uma edificação. Começamos a suspeitar que o significado de pedra angular talvez tenha sido mal-entendido e o conceito de que "todos os homens estão unidos numa construção", não pode ser interpretado como
pedra angular no sentido de uma pedra situada no canto ou na quina da edificação.
(...)
 
 
· Pode-se notar que o "Grande Arquiteto do Universo" está identificado a Cristo (portanto ao Logos), por sua vez relacionado ao simbolismo da "pedra angular", entendida de acordo com o que já explicamos (cap. 43); o "pináculo do Templo" (e podemos notar a curiosa semelhança da palavra "pináculo" com o hebraico pinnah, que significa "ângulo") é naturalmente o topo ou o ponto mais elevado, e, como tal, equivale à "chave de abóbada" (Keystone) Arch Masonry.
·          Cristo também, como o Jano antigo, leva o cetro real a que tem direito em nome de seu Pai do Céu e de seus ancestrais neste mundo; e sua outra mão segura a chave dos segredos eternos, a chave tingida pelo seu sangue, que abriu, para a humanidade perdida, a porta da vida. É por isso que, na quarta das grandes antífonas anteriores ao Natal, a liturgia sagrada o aclama assim: 'O Clavis David, et Sceptrum domus Israeli... Vós sóis, ó Cristo esperado, a Chave de Davi e o Cetro da casa de Israel. Vós abris, e ninguém pode fechar; e quando vós fechais ningué858888m mais saberia abrir...' "
·          Por essas poucas considerações já é fácil compreender que Jano representa verdadeiramente Aquele que é, não só o "Senhor do tríplice tempo" (designação que é de igual modo aplicada a Shiva na doutrina hindu), mas também, e antes de tudo, o "Senhor da Eternidade". Cristo, escrevia ainda a esse respeito o sr. Charbonneau-Lassay, domina o passado e o futuro; coeterno com seu Pai, é como ele o "Ancestral dos Dias": "No princípio era o verbo", diz São João. Ele é também o pai e o senhor dos séculos vindouros: Jesu pater futuri saeculi, repete diariamente a Igreja Romana, e Ele próprio se proclama o começo e o final de tudo: "Eu sou o alfa e o ômega, o princípio e o fim". "É o 'Senhor da Eternidade'.’’(de certa forma a Luz é o respaldo da memória do universo já que nela o passado, o presente e o futuro estão ocorrendo num único instante eterno e portanto são acessíveis através dela)
·          De acordo com o simbolismo empregado pela Cabala hebraica, à direita e à esquerda correspondem respectivamente dois atributos divinos: a Misericórdia (Hesed) e a Justiça (Din), que também cabem de forma clara a Cristo, em especial quando o consideramos em seu papel de Juiz dos vivos e dos mortos.
·          Quando o peixe é tomado como símbolo de Cristo, seu nome grego, Ichthus, é considerado como formado pelas iniciais das palavras Iêsous Christos Theou Uios Sóter (Jesus Cristo, de Deus Filho, Salvador).
·          Como Vishnu na Índia, e também sob a forma de peixe, o Oannes caldeu, que alguns consideraram de modo categórico como uma representação de Cristo, ensina igualmente aos homens a doutrina primordial; trata-se de um exemplo admirável da unidade que existe entre tradições muito diferentes na aparência, e que permaneceria inexplicável se não admitíssemos suas ligações com uma fonte comum.
·          A isso se liga a designação de Cristo como "germe" em diversos textos da Escritura, que retomaremos talvez numa outra ocasião...
·          É muito significativo, sob esse ponto de vista, que os hermetistas cristãos falem de Cristo como sendo a verdadeira "pedra filosofal", com a mesma frequência que se referem a ele como "pedra angular".
·          Observe-se a relação existente entre a unção da pedra por Jacó, bem como a dos reis para a sua sagração, e o caráter de Cristo ou do Messias, que é o "Ungido" por excelência (Khristós, no grego, e Mashiah, no hebraico, significam "ungido")
  
H. P. Blavatsky era enfática quanto à biografia de Jesus fazer alusão a um mito solar, inclusive depreendido do culto a Mithra.
 
 
 
 

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